Advogado da CAIXA faleceu na última segunda-feira (11). Advocef reuniu depoimentos de amigos que atuaram ao lado dele durante essa jornada. Confira a homenagem
Os advogados da CAIXA foram surpreendidos com a notícia do falecimento do colega José Carlos Pinotti Filho, de 46 anos, na segunda-feira (11), vítima da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Ele deixa três filhos.
O paranaense, admitido na CAIXA em 26 de junho de 2001, fez questão de se filiar à Associação Nacional dos Advogados da Caixa Econômica Federal (Advocef) em 31 de junho daquele ano, dias depois de assumir o cargo. Na instituição, atuou como diretor-tesoureiro e segundo secretário entre 2004 e 2010.
Iniciou a trajetória na Representação Jurídica de Londrina (Rejur/LD), foi gerente do Jurídico de Belém (Jurir/BE), atuou na Gerência Nacional de Tribunais Superiores (GEATS), trabalhou como gerente no Jurídico Bauru (Jurir/BU) e, em fevereiro deste ano reassumiu a gerência do Jurir/Belém. No caminho, deixou o legado de liderança, profissionalismo e alegria por onde passou.
Para homenagear a trajetória profissional de José Carlos Pinotti Filho, a Advocef reuniu depoimentos de advogados que atuaram ao lado dele e aceitaram contribuir para que, apesar da tristeza causada pela partida, prevaleça a felicidade das memórias vividas com o advogado.
Amante da música
O diretor jurídico da CAIXA, Gryecos Loureiro, recorda do tempo em que Pinotti atuou na Gerência Nacional de Tribunais Superiores (GEATS). O temperamento diferente, a forma de lidar com os desafios e propor soluções garantiu o aprendizado mútuo e tornou o campo profissional muito produtivo para os dois. Na opinião dele, o encontro das visões distintas e a disposição de um aprender com o outro trouxe resultados positivos para a empresa, além de contribuir para o nascimento da amizade entre eles.
Fora do banco, os dois tinham muita coisa em comum, como o hobby de tocar contrabaixo e a paixão por rock, o que sempre mantinha os amigos em contato. Um dos fatos inusitados que marcou a lembrança de Gryecos foi a felicidade do amigo ao conquistar um álbum autografado da banda Queen.
“A gente estava sempre trocando informações e conversando sobre música. Eu lembro da felicidade que ele ficou quando conseguiu um álbum em vinil do Queen autografado, no ano passado. Não sei como ele conseguiu, mas me mandou foto, ficou muito empolgado com isso. Ele mesmo não estava acreditando e ficou muito feliz, eu me lembro da felicidade dele”, conta.
Respeito, alegria e aprendizado
Filho de José Carlos Pinotti e Maria Helena Pimenta Pinotti, o advogado demonstrava grande respeito e admiração pelos pais, sempre compartilhando histórias e lembranças da família com os colegas. Outra característica marcante era a alegria que contagiava todos ao redor. As gargalhadas ecoavam nos corredores e preenchiam os espaços de uma presença sempre bem quista e desejada, como relata o advogado Daniel Correa, que trabalhou ao lado de Pinotti no Jurídico de Bauru (Jurur/BU).
Para ele, os três anos em que o colega atuou em Bauru passaram muito depressa. Talvez por conta do jeito de ser, que decerto refletia na maneira de trabalhar: alegre, autêntico e espontâneo. Ao falar do amigo, Daniel descreve detalhes que revelam o motivo de Pinotti conquistar todos ao redor.
“O Pinotti era uma pessoa muito divertida de se conviver. Era brincalhão, conversador… muito espiritualizado e com um grande coração, gostava de ajudar as pessoas e por várias vezes ajudou, sem alarde, com discrição”, conta.
Daniel lembra que se identificou com Pinotti logo que ele chegou no Jurir/BU. Os dois ficaram muito próximos também fora do trabalho e compartilharam momentos muito alegres que ficarão na lembrança, como diz o advogado.
“Aprendi muito com ele e sou muito grato por toda a confiança que teve em mim e pelas oportunidades que me deu. Que bom que tive tempo de poder dizer isso tudo a ele”, afirma.
Para Daniel, não existem palavras que descrevam a tristeza nesse momento, não há uma pessoa sequer em nosso Jurídico que não tenha ficado devastada com a triste e prematura partida do amigo.
O amigo que se tornou um irmão
O relato da advogada Patricia Raquel Caires Jost Guadanhim tenta resumir em palavras um sentimento que não tem tradução. O início da amizade entre os dois se confunde com a chegada dele na CAIXA, em 2001. Ela soube que dois advogados tinham assumido o cargo e decidiu puxar conversa, já que também foi no mesmo concurso. “Ele todo sorridente estava todo animado. Lembro bem dessa imagem”. Em 2005, quando foi lotada para atuar em Londrina, a interação entre os dois foi imediata, pois Patrícia logo foi ajudar na Advocef, onde Pinotti também colaborava.
“Com isso fomos estreitando os laços, já que eu, Gilberto Gemin, Altair e Pinotti quase que diariamente depois do expediente tínhamos questões da associação para tratar. Éramos mais que simples colegas, éramos amigos verdadeiros. Tínhamos uma sinergia no trabalho e a troca de auxílio diário era muito próxima”, contou.
O cuidado de Pinotti com os trabalhos na Associação também é lembrado com carinho por Patrícia, que foi a suplente do colega tesoureiro. Na época o rateio de honorários era manual e Pinotti sempre fazia questão de conferir tudo mais de uma vez para que não houvesse erros.
“Quantas vezes vi o Pinotti de férias da CAIXA indo para a Rejur, pois dizia que os honorários não podiam atrasar, já que muitos colegas usavam como sustento. Era disposto demais da conta. Não tinha preguiça de ajudar seja na associação, CAIXA ou mesmo em alguma questão particular”, disse.
Para Patrícia, uma das tarefas mais difíceis é resumir em poucas palavras muitos anos com alguém que tanto estimou. Entre as várias histórias e situações inusitadas nos quase 20 anos de amizade, a advogada destaca uma das últimas vezes que falou com ele:
“Quando retornou para Belém me disse que precisava girar, que tínhamos 20 anos pela frente antes da aposentadoria e que o aguardasse. ‘Loira: guarde uma sala para mim’. Rimos juntos pensando que estaríamos velhos e talvez sem aposentadoria. Nunca imaginei que seria a última conversa pelo telefone ou pessoalmente. Descanse, meu amigo. Você era um irmão para mim.”, disse.
Competência e alegria
O ex-presidente da Advocef Altair Rodrigues de Paula trabalhou com Pinotti na Rejur/LD. Para ele, além de competente advogado, Pinotti foi um grande colaborador da associação, que participou ativamente das gestões de 2004/2006 e 2006/2008 como tesoureiro, na época que os rateios não eram informatizados e demandavam várias horas de trabalho para a elaboração. Além disso, destacou o trabalho dele em 2010 como segundo secretário.
A personalidade de Pinotti tornava fácil a convivência em todos os ambientes. Altair lembra que ele ria das situações, era sério quando necessário, trabalhador na hora que precisava e descontraído nas horas vagas. Além disso, vivia falando da família e dos filhos com um carinho especial.
“Tínhamos uma amizade. Sempre estávamos juntos. Trabalhávamos na mesma área, dedicávamos aos interesses da associação durante vários anos, então os assuntos viviam misturados. Era conselheiro e divergíamos às vezes, mas isso nunca abalou a consideração e amizade que tivemos”, contou.
O ex-presidente da Advocef Alvaro Weiler conta que começou a admirar o colega antes mesmo de conhecê-lo pessoalmente por conta do trabalho dele na associação. Na opinião de Alvaro, a homenagem é uma forma de prestar solidariedade aos familiares e enaltecer a memória desse grande advogado e ser humano, comprometido e competente, que prestou relevantes serviços para a Advocef e a CAIXA. Além do profissionalismo, a alegria de Pinotti é uma das características mais marcantes para o advogado, que recorda alguns encontros com o colega.
“No Congresso de Belém, em meados de 2015, quando eu presidia a Advocef e ele era o gerente jurídico da CAIXA nos estados do Pará e do Amapá, recebeu a todos com muita alegria e carinho e tive a oportunidade de confirmar pessoalmente as boas impressões que já tinha. Após alguns encontros na Matriz, em Brasília, e depois no Jurídico Regional de Bauru, tive a oportunidade de conhecer seu excelente trabalho como gestor da área jurídica”, disse.
Atual segunda tesoureira da Advocef, a advogada Marisa Alves Dias Menezes trabalhou com Pinotti na associação durante as gestões dos presidentes Altair Rodrigues de Paula e Darli Bertazzoni Barbosa.
“Pinotti foi um companheiro incansável, alegre, sempre pronto para colaborar. Raras vezes o sorriso deixava seu rosto e sempre tinha uma palavra de estímulo e conforto. Foi uma perda irreparável para todos nós”, diz.
O ex-diretor jurídico da CAIXA, Jailton Zanon também homenageou o colega. “O que se destacava no Pinotti era sua humanidade, a sua gentileza a atenção constante que ele dava para os amigos da CAIXA e aquele sorriso contagiante foi o que ele deixou como lembrança para todos nós”, disse.
“Calmo, tranquilo, bem humorado, fazia a equipe render, produzir, sem estresse, com uma liderança segura. Sou grato pela oportunidade de trabalhar com um ser humano que me deixou boas lembranças, que facilitou, tornou mais leve nosso ônus laboral. Que Deus o tenha em uma de suas inúmeras moradas”, disse o advogado Estanislau Luciano de Oliveira (Dijur-SUTEN).
Gestão de leveza e resultados
A primeira experiência de Pinotti como gerente ocorreu no Jurídico de Belém. Ele deixou a Rejur/LD para assumir o desafio na Região Norte do Brasil e viver uma realidade totalmente distinta do que estava acostumado, no Sul do país.
Porém a expectativa da chegada dele não era tão boa, como revela o advogado José de Anchieta Bandeira Moreira Filho. Segundo ele, os advogados do Jurir/BE torciam para que a gerência fosse assumida por algum colega da região, mas não foi o que aconteceu. Ele recorda que a equipe estava resistente com a chegada de Pinotti, mas a apresentação do novo chefe ocorreu de forma inusitada e, nas palavras dele, “foi um sinal de como a gerência seria leve”.
Pinotti chegou na companhia de um dos gerentes nacionais da Dijur, e se apresentou de calça jeans, tênis, camisa de manga enrolada para uma turma de advogados todos ‘embecados’ de terno. “E a gente imaginava: esse homem vem se apresentar para nós desse jeito?”
O clima de estranheza logo se dissipou quando Pinotti explicou a situação aos colegas: ele estava vestido assim porque a mala foi extraviada no voo e não tinha dado tempo de comprar outra roupa.
“Todo mundo começou a rir e entendeu, afinal qualquer um podia passar por aquilo. O Pinotti se transformou numa das melhores surpresas que todos nós tivemos no Jurídico de Belém. Ninguém esperava que ele fosse conquistar todos: o estagiário, os colaboradores da limpeza, o pessoal do administrativo e os advogados”, contou Anchieta.
Reconhecimento da Justiça Federal no Pará
A gestão de Pinotti no Jurir/BE foi marcada pelos mutirões de conciliação da CAIXA coordenados pelo Centro Judiciário de Conciliação (Cejuc), medida que permitiu o aumento do número de acordos feitos pelo banco. Em nota, a Justiça Federal no Pará lembrou a atuação do advogado junto ao órgão e enalteceu o empenho do empregado público.
“Durante o período em que exerceu suas atividades entre nós, ele deu demonstrações inequívocas de espírito público que muito contribuíram para um dos objetivos precípuos do Poder Judiciário Federal: atender com presteza os cidadãos, estimulando-os de preferência a conciliar nos processos e encerrá-los com maior brevidade”, diz a nota.
Anchieta fez parte da equipe e lembra orgulhoso da medida que marcou a carreira do colega no Pará.
“A CAIXA fez muitos acordos na época da gerência dele, e isso melhorou muito a imagem do banco perante a Justiça Federal. E digo isso com um orgulho muito grande porque eu fiz parte dessa equipe. Posso dizer com toda certeza que não existe alguém que não considere o Pinotti um excelente gestor e uma excelente pessoa”, completou.
Profissional inspirador
Quem também contribuiu com a homenagem foi o advogado Leonardo de Oliveira Linhares, atual gerente do Jurir/BE. Ao receber a notícia do falecimento de Pinotti por meio de um grupo no WhatsApp, os colegas lembraram de diversos felizes momentos alegres da convivência. Entre os relatos, o do consultor Leonardo Groba chamou atenção do gerente.
“Ele lembrou de um processo seletivo no qual Pinotti era candidato e a banca, ao perguntar como ele se definia, recebeu a resposta de que ele se identificava como um gordinho feliz”, contou.
Para Leonardo, “a leveza do gordinho feliz” levou o jurídico de Belém a patamares de resultados nunca alcançados antes. A fé incondicional do gestor na equipe incentivou todos a colaborar em projetos da matriz, como comissões temáticas e trilhas presenciais.
“Ele deu visão e reconhecimento ao Jurir/BE e inspirou novos líderes, como à Eliza e a mim. Representou para mim um divisor de águas nas minhas ambições profissionais, e em nenhum momento deixei de ouvi-lo nestes oito anos desde que nos conhecemos, mesmo quando já estava na Matriz ou em Bauru. Trouxe-me grande alegria quando quis retornar a Belém, e nesta última jornada, de curtíssimos dois meses, sentia-me renovado em ser guiado por ele novamente, esperançoso de que recuperaríamos nossos melhores dias”, declarou Leonardo de Oliveira Linhares.
Mas, para o advogado, nada disso seria possível se Pinotti não fosse uma pessoa com quem todos gostassem de conviver também fora do expediente, nos happy hours, no caranguejo toc toc, nos churrascos, nas praias de Salinópolis.
“Nestes ambientes ele nos conquistava de vez, falando de livros, de comida, de rock n’ roll, de ‘nerdices’. Quantas histórias dele ainda eram lembradas por nós diariamente, mesmo passados quatro anos depois de sua ida à GEATS”, comenta.
A saudade
Com a voz embargada e emocionado pela perda, o advogado Salvador Congentino Neto lembra das semelhanças que tinha com o amigo. Além do senso de humor, a personalidade dos dois desenvolveu uma intensa amizade durante as carreiras na CAIXA.
“Eu gostava demais do senso de humor dele e a gente costumava conversar por telefone sobre os mais variados assuntos. Ele era um apaixonado por música, pelo rock e me mandava os vídeos dos roqueiros que gostava, então nós sempre estávamos conversando”, relatou.
Salvador Congentino Neto acompanhou os últimos dias do amigo José Carlos Pinotti Filho e testemunhou a dedicação do advogado, que trabalhou e participou de reuniões dias antes de ser internado.
O choque da partida não conseguiu apagar as lembranças do homem alegre, que gostava da vida, extrovertido, amigo, simpático e animado, que foi Pinotti. Essas características fizeram dele um bom gestor de pessoas, que contribuía para tornar o trabalho mais leve. Por onde passava conseguia influenciar positivamente e fazer as pessoas gostarem do trabalho, da CAIXA e do jurídico, como contou Salvador.
“No ambiente de trabalho as vezes nós temos relações mais impessoais, mais formais, mais cordiais… ele era um amigo de verdade! Essa proximidade, essa pessoalidade, essa confiança vão deixar saudades, vai fazer falta e não vai ter reposição”, disse.
A Associação Nacional dos Advogados da Caixa Econômica Federal (Advocef) agradece aos colegas que, mesmo abalados e profundamente tocados pela perda, contribuíram para recordarmos a trajetória do nobre amigo José Carlos Pinotti Filho.
Obrigada por nos permitirem registrar que além de um grande advogado da CAIXA, ele foi também filho, pai e um grande amigo que permanecerá vivo em nossas lembranças.
José Carlos Pinotti Filho
✮ 06/02/1973
✞ 11/05/2020
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