Ação, papel, lote, quota. São várias os nomes que se dão para os valores mobiliários negociados nas Bolsas de Valores ao redor do mundo.
Talvez a pergunta mais recorrente que um investidor com um pouco mais de experiência no mercado de capitais ouve de quem inicia a jornada nos investimentos seja “Qual ação devo comprar?”.
Os desejos implícitos nessa pergunta normalmente são de enriquecimento rápido e sem risco; afinal, são fartas as notícias de ações que brilharam nos últimos 12 meses. Entretanto, não existe atalho ou dinheiro fácil. É preciso ter ciência de que o investimento não é a ação em si, mas sim o negócio da sociedade anônima cuja parcela mínima do capital social ela representa.
Isso porque por trás de toda ação existe uma Empresa que possui centenas (ou milhares) de funcionários, dezenas (ou centenas) de imóveis, um modelo de negócio estabelecido, incontáveis contratos, centenas (ou milhares) de clientes, talvez uma enorme frota de veículos, quiçá sistemas de informática que valem milhões, entre outros insumos e fatores produtivos. Também há vários projetos de investimento que envolvem um número expressivo de colaboradores para a agregação de valor sintetizado em produtos e serviços que objetivam melhorar a vida de todos.
Para toda conta que se paga pelo internet banking, para todo livro que se adquire, para todo móvel que se compra e para toda viagem que se faz (exemplos estes de experiências bastante cotidianas), há uma infinidade de pessoas, estruturas produtivas e capitais mobilizados.
Tudo isso para satisfazer as necessidades humanas materiais e imateriais legítimas em busca de uma vida melhor, feliz e confortável.
Quando se adquire uma ação, é isso que se compra e não um lote padrão de “papéis” de um código de 4 letras e 1 número. Comprar uma ação, no final das contas, significa investir em um negócio que mobiliza capital, estruturas e pessoas em torno de um propósito comum.
É por isso que não se deve comprar uma ação em virtude de uma “dica” de dinheiro fácil e rápido. Deve-se comprá-la se o negócio empresarial encampado por ela for rentável, agregar valor para a sociedade como um todo e fizer sentido na sua estratégia e no seu portfólio de investimentos, pois não há negócio que sobreviva no longo prazo sem melhorar, de alguma forma, a vida das famílias, das empresas ou dos governos.
Não faz sentido comprar a ação de uma empresa simplesmente porque ela está “barata”. É necessário bem mais do que isso. Do contrário, seria muito fácil formar patrimônio comprando ações de sociedades de capital aberto que estão em recuperação judicial – exemplos de Oi e Eternit – e continuam negociando na B3.
A Oi, para mencionar um exemplo prático (como demonstram os gráficos, extraídos do site Fundamentus), há anos tem sua receita, suas margens (bruta e operacional) e seus lucros reduzidos, representando um investimento com acentuado risco em relação a outros negócios disponíveis na Bolsa de Valores brasileira que, em sentido contrário, melhoram tais indicadores. É o barato que pode sair caro, embora se deva reconhecer o grande potencial de valorização das ações caso a empresa de telefonia consiga superar a condição de recuperação judicial ou seja adquirida por outra empresa.
Em suma, não compre ações: invista em negócios de sucesso (aqueles que geram caixa, aumentam os lucros, expandem suas atividades, controlam o próprio endividamento, possuem vantagens competitivas e atuam em mercados perenes) e entenda a Companhia que pretende adquirir! Procure descobrir o que a empresa faz, quais produtos ou serviços ela fornece, como ela ganha dinheiro, quem são os seus clientes, quais são as suas fragilidades, como se configura o mercado em que ela atua, quais são os seus concorrentes, em que medida estes representam uma ameaça, etc.
Encontrar as respostas para essas e outras perguntas relevantes sobre o negócio antes de decidir pelo investimento efetivo diminuirá o risco da sua carteira ao mesmo tempo em que aumentará as suas chances de retorno.
Dúvidas, críticas ou sugestões, escreva para o e-mail colunainvestimentosemercados@advocef.org.br. Esse é um espaço aberto a todos e sua colaboração é fundamental! Invista no seu futuro aprendendo a investir.
Marco Aurélio Panadés Aranha
Investidor há mais de 10 anos do mercado de capitais
Formado em Administração pela FGV e Direito pela USP
@marcoaurelioparanha (Instagram)
Advogado