Inovações tecnológicas permitiram pagamentos de benefícios sociais a milhões de brasileiros durante o distanciamento social. Ameaças de privatização e fatiamento do banco se intensificam e preocupam o futuro do banco público
A CAIXA completa, nesta terça-feira (12), 160 anos presente na vida dos brasileiros. No último ano, a população viu ainda mais de perto o impacto que a atuação do banco público tem no desenvolvimento do país com o pagamento de benefícios sociais. Entre eles, o Auxílio Emergencial que, graças ao trabalho dos empregados, foi repassado para mais de 60 milhões de pessoas, segundo o último balanço divulgado pela empresa.
Na data que celebra a fundação do maior banco público da América Latina, a Associação Nacional dos Advogados da Caixa Econômica Federal (Advocef) comemora a trajetória, reconhece o trabalho dos profissionais e amplia a perspectiva sobre o futuro da estatal, que tem áreas lucrativas na mira da privatização.
“Em nome dos advogados da CAIXA, parabenizo essa instituição tão importante e tão representativa da realidade do país. A história do banco se confunde muitas vezes com a própria história do Brasil, em suas vitórias e dificuldades. É um orgulho para todos nós fazermos parte dessa história”, afirma a presidente da Associação, Anna Claudia de Vasconcellos.
Apesar das comemorações e do êxito do banco durante a pandemia, a discussão sobre a privatização de subsidiárias da estatal continuam fortes. A ideia de vender a CAIXA não é vista com bons olhos pela população brasileira, como revela um levantamento feito em agosto de 2020 pela Revista Exame em parceria com o Instituto Ideia. A pesquisa mostrou que 49% da população entrevistada é contra a privatização da CAIXA. Dos 1.235 entrevistados de todas as regiões do Brasil, apenas 22% são a favor da venda; outros 19% se mostraram neutros quanto ao assunto e 9% não souberam opinar.
Na avaliação de Vasconcellos, a atuação da CAIXA durante o ano de 2020 contribuiu para conscientizar a sociedade sobre a relevância da empresa, o que motivou a população a participar ativamente de campanhas virtuais em defesa do banco 100% público.
“A população é contra a privatização e com o apoio da sociedade nós daremos continuidade ao movimento em defesa da CAIXA 100% pública e sustentável. Não podemos concordar com o fatiamento de uma das instituições mais importantes para o desenvolvimento do Brasil”, disse.
A operacionalização dos pagamentos é fruto do trabalho e do compromisso dos empregados da CAIXA que, assim como a estatal, também enfrentaram inúmeros desafios ao longo de 2020, como as condições de trabalho, a exposição ao risco de contágio e a falta de pessoal para os atendimentos nas agências.
“Mesmo com todas as condições adversas, o pessoal da CAIXA foi responsável por entregas de soluções em tempo recorde, o tipo de coisa que só acontece quando há compromisso e amor pelo que faz”, comenta a presidente da Advocef.
O sentimento
O diretor de comunicação da Advocef, Marcelo Dutra, se diz orgulhoso por trabalhar na CAIXA. Para ele, o sentimento vem pelo fato de como a empresa tem se alinhado com a missão de estreitar relações com a população e ser agente de desenvolvimento nacional.
Para o advogado, apesar de ser um gigante financeiro com forte solidez, a CAIXA não deixou de ser moderna e inovadora. Entre outros pontos, ele destaca a abertura de mais de 100 milhões de contas digitais pelo aplicativo Caixa Tem e a rápida ampliação do trabalho remoto em razão do plano de contingência deflagrado pela epidemia de Covid-19. Dutra lembra que milhares de empregados foram incorporados ao programa de trabalho remoto, com esforço e dedicação se adaptaram à nova ferramenta para dar continuidade ao atendimento da população e as missões da CAIXA em seus lares.
“Essas mudanças se fizeram de uma forma muito rápida e trouxeram grandes desafios, mas o compromisso com a estratégia corporativa da CAIXA e o espírito público dos seus empregados sempre será a mola motriz para fazer da empresa essa grande protagonista do desenvolvimento do país por agora e nos próximos anos. Se assim não for, esvaziaremos o nosso discurso e compromisso com uma empresa 100% pública, de alta eficiência, com capacidade de transformação reconhecida e comprometida firmemente em ser o banco de todos os brasileiros”, disse o diretor de comunicação.
O futuro
Desenvolvido para viabilizar o pagamento do Auxílio Emergencial, o aplicativo Caixa Tem garantiu a inclusão bancária de milhões de brasileiros que não tinham acesso aos serviços oferecidos por uma instituição financeira. Foram 105 milhões de contas digitais criadas em 2020.
Mesmo assim, a proposta do banco digital ainda precisa ser aprovada pelo Banco Central e pelo Conselho de Administração da CAIXA (CA), mas a atual gestão já expôs a pretensão de abrir o capital do negócio no Brasil e no exterior.
“Estamos discutindo internamente. Há um consenso que esse é um ponto chave para o futuro da Caixa Econômica Federal. Já há uma conversa inicial no conselho de administração e algumas conversas no Banco Central”, disse o presidente da CAIXA, Pedro Guimarães, durante coletiva para apresentar o Balanço do terceiro trimestre de 2020.
Em vídeo, a representante dos empregados no Conselho de Administração da CAIXA, Rita Serrano, explica que a proposta para criação do banco digital ainda não foi discutida pelos órgãos de governança interna da empresa.
A conselheira lembra, ainda, que bancos privados como Bradesco, Itaú e Santander têm plataformas digitais como um segmento novo, para atrair jovens aos serviços bancários e entrar na concorrência com as fintechs, que tomam grande parte deste público. Porém, como aponta Serrano, o banco digital na CAIXA tem uma proposta diferente: a instituição vai criar uma subsidiária, transferir para ela as operações que são da estatal, e vender em seguida.
“Não se trata de um segmento novo para dar mais concorrência. Isso é gravíssimo, é um processo quase de cisão do banco – transfere operações principais do banco para uma subsidiária que já tem objetivo de IPO. É um risco para a sustentabilidade e integridade do banco”, explicou a conselheira.
A expectativa é que a criação definitiva do banco digital ocorra ainda no primeiro semestre de 2021. Além do pagamento de todos os benefícios sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, que será substituído pelo Casa Verde e Amarela, o banco digital vai liberar microcrédito para, no mínimo, 10 milhões de clientes. A ideia também é fornecer crédito imobiliário para famílias de baixa renda.