Será que qualquer pessoa tem a capacidade de montar uma carteira de ações? Minha resposta a essa pergunta é um enfático SIM: com algum conhecimento, paciência, uma estratégia clara de investimento e disciplina nos aportes e nos reinvestimentos dos proventos é possível montar uma carteira e alcançar uma rentabilidade consistente no longo prazo.
Isso não significa que o mercado de ações seja bom para todos, pois a volatilidade dos preços dos ativos de renda variável pode, entre outros fatores, abalar a tranquilidade e atrapalhar o sono de muitos investidores.
Lembre-se de que a saúde é um dos pilares da filosofia de finanças integradas que adotamos (o que mencionamos no artigo “Você merece bem mais do que abundância financeira”) e, portanto, nenhum retorno financeiro deve ser alcançado ao custo de estresse e insônia ou noites mal dormidas.
Esse eventual incômodo do investidor iniciante com a volatilidade dos preços dos ativos pode ser controlado por meio de um percentual reduzido da carteira de investimentos destinado à renda variável.
Até 10% (de toda a carteira de investimento) alocado em renda variável é um percentual bastante palatável para a grande maioria dos investidores. Entre 10% e 30%, uma alocação moderada. De 30% a 50%, uma alocação bastante arrojada e acima de 50% é para aqueles que tem muita experiência, estômago forte e não ligam para a oscilação do saldo na Corretora.
Fato é que este é um momento oportuno (em razão da ótima margem de segurança) para a montagem de uma carteira de ações.
E para demonstrar isso (para o investidor individual iniciante), bem como a importância de comprar bons ativos a bons preços, montaremos neste artigo uma carteira teórica de ações, cuja evolução será reportada semestralmente.
Uma carteira de ações não precisa ser formatada de uma única vez, ou seja, em um único dia ou em uma única semana. As ações devem ir sendo adquiridas à medida que surgirem boas oportunidades (boas empresas sendo negociadas a preços atrativos e com larga margem de segurança).
Porém, não há dúvida de que atualmente há vários ativos brasileiros de renda variável sendo negociados a preços bastante descontados, mostrando-se um momento interessante para a formação de um portfólio.
Antes de tudo, vale frisar que ESSA CARTEIRA TEÓRICA DE AÇÕES NÃO REPRESENTA UMA RECOMENDAÇÃO DE COMPRA, sendo apenas um exercício técnico para demonstrar que qualquer pessoa pode montar uma carteira bem-sucedida de ações e, adotando uma gestão adequada, ter uma rentabilidade consistente no longo prazo.
Eis as premissas que serão seguidas para a montagem da carteira:
- Investimento inicial de R$ 100.000,00 (cem mil reais);
- Reserva de oportunidade R$ 20.000,00 (vinte mil reais): investida na poupança;
- Horizonte de investimento de, no mínimo, 5 (cinco) anos;
- Escolha de ações de 10 a 12 empresas de vários setores, objetivando uma diversificação mínima;
- Compra de lotes-padrão de 100 ações;
- Distribuição inicial igualitária de valores entre as empresas elegidas;
- Reinvestimento de 100% dos proventos futuros a serem recebidos (não necessariamente no mesmo ativo que efetuou a distribuição);
- Aportes mensais de R$ 2.000,00 (dois mil reais);
Para simplificar este exercício, não será inserido na carteira nenhum fundo de investimento em ações, nenhum fundo imobiliário ou ativo internacional e a reserva de oportunidade (dinheiro destinado à compra de ativos bastante descontados que “aparecerem” ao longo do caminho) será investida na poupança. Por sua vez, a reserva de emergência também não será destacada, mas se pressupõe que ela exista e tenha sido constituída previamente à montagem da carteira.
COMO DITO, NÃO SE TRATA DE UMA RECOMENDAÇÃO DE COMPRA, mas sim de uma demonstração de como está ao alcance de qualquer pessoa a montagem e a gestão de uma carteira de ações.
E quais setores farão parte dessa carteira? Sobre isso, há uma regra muito simples: devem ser escolhidos setores perenes (ou seja, que são essenciais para a economia de qualquer país) com empresas perenes (isto é, que continuarão existindo nas próximas décadas).
Há setores perenes cujas empresas declaram falência de tempos em tempos. Um dos melhores exemplos desse fenômeno é o setor de avião civil brasileira. Com custos em dólar e receitas em real, é difícil acreditar na perenidade das empresas que atuam no segmento, embora o setor sempre vá existir.
A última comprovação desse risco elevado de “ausência” de perenidade das empresas do setor aéreo nacional pôde ser vista com a companhia aérea ITA (do grupo Itapemirim), que cancelou dezenas de voos às vésperas do Natal de 2021 e teve a sua licença de funcionamento suspensa pela ANAC. Mas há inúmeros exemplos correlatos do passado: VARIG, VASP, Transbrasil, Avianca Brasil etc.
Para a nossa carteira teórica, escolheremos os SETORES de energia elétrica, águas e saneamento, bancário, seguros, reciclagem/reaproveitamento de resíduos (ESG), saúde, peças e componentes de ferro fundido e transportes terrestres.
As EMPRESAS ESCOLHIDAS são: ALUPAR, NEO ENERGIA, SANEPAR, BANCO DO BRASIL, SUL AMÉRICA, INSTITUTO DE RESSEGUROS DO BRASIL (IRB), AMBIPAR, FLEURY, REDE D’OR, TUPY e SIMPAR.
CARTEIRA TEÓRICA: COLUNA INVESTIMENTOS & MERCADOS | ||||||
Companhia | Código | Data inicial de compra | Preço inicial de compra | Quantidade de ações | Valor total | Rentabilidade |
Alupar | ALUP11 | 12/01/2022 | R$ 23,70 | 400 | R$ 9.480,00 | – |
Neo Energia | NEOE3 | 12/01/2022 | R$ 15,00 | 600 | R$ 9.000,00 | – |
Sanepar | SAPR11 | 12/01/2022 | R$ 17,60 | 600 | R$ 10.560,00 | – |
Banco do Brasil | BBAS3 | 12/01/2022 | R$ 29,00 | 300 | R$ 8.700,00 | – |
Sul América | SULA11 | 12/01/2022 | R$ 23,40 | 400 | R$ 9.360,00 | – |
Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) | IRBR3 | 12/01/2022 | R$ 3,65 | 1600 | R$ 5.840,00 | – |
Ambipar | AMBP3 | 12/01/2022 | R$ 37,30 | 300 | R$ 11.190,00 | – |
Fleury | FLRY3 | 12/01/2022 | R$ 18,00 | 500 | R$ 9.000,00 | – |
Rede D’Or | RDOR3 | 12/01/2022 | R$ 41,00 | 200 | R$ 8.200,00 | – |
Tupy | TUPY3 | 12/01/2022 | R$ 20,50 | 400 | R$ 8.200,00 | – |
Simpar | SIMH3 | 12/01/2022 | R$ 9,70 | 1.100 | R$ 10.670,00 | – |
Reserva de Oportunidade | – | – | – | – | R$ 19.800,00 | – |
Aportes mensais | – | – | – | – | – | – |
Proventos recebidos | – | – | – | – | – | – |
TOTAL | 6.400 | R$ 120.000,00 |
Mais à frente escreveremos outro artigo apenas para explicar os motivos que levaram à escolha das empresas e dos setores da carteira e detalhar um pouco a atividade e o modelo de negócio de cada uma das companhias selecionadas.
Dúvidas ou sugestões, escreva para o e-mail colunainvestimentosemercados@advocef.org.br. Esse é um espaço aberto a todos e sua colaboração é fundamental! Invista no seu futuro aprendendo a investir.
Marco Aurélio Panadés Aranha
Investidor há mais de 10 anos do mercado de capitais
Formado em Administração pela FGV e Direito pela USP
@marcoaurelioparanha (Instagram)
Advogado