O título pitoresco (quase exótico) do artigo de hoje serve para chamar a atenção para algo muito simples: investir deve fazer parte da nossa rotina e não ser algo casual ou esporádico.
Da mesma forma que praticamos algumas atividades cotidianas como escovar os dentes, trocar de roupa, fazer exercícios físicos, dormir ou tomar banho, apregoo firmemente: devemos reconhecer o ato de investir periodicamente (mesmo com pequenos aportes) como um hábito saudável.
Separar um percentual do próprio salário e aplicá-lo recorrentemente no intuito de garantir para si um futuro mais seguro, tranquilo e, portanto, menos dependente de terceiros (sejam eles o governo, um parente ou um amigo) convence ser uma providência extremamente salutar.
Há quem defenda[1] que se deve “pagar a si mesmo primeiro”, ou seja, antes de o dinheiro ganho ser utilizado para satisfazer as despesas, deveria ser utilizado para a poupança pessoal. Sinceramente, pra mim, pouco importa a ordem – se as despesas serão pagas antes ou depois da reserva destinada para o investimento – desde que haja essa efetiva poupança e ela seja perene e corriqueira.
Existe um motivo quase óbvio para se separar habitualmente 10%, 20%, 30% ou mais do orçamento doméstico exclusivamente para investir: se tal percentual não for destacado dos gastos comuns, não haverá a menor possibilidade de se acostumar com uma renda um pouco menor em comparação com aquela que se recebe.
Trocando em miúdos: imagine uma pessoa com um salário líquido mensal de R$ 10.000,00 e o objetivo de poupar R$ 24.000,00 por ano (ou seja, em média R$ 2.000,00 por mês).
Seria mais simples e fácil ela se propor a economizar R$ 2.500,00 e viver com R$ 7.500,00 todos os meses – pois teria uma margem de segurança para imprevistos em períodos em que poderão surgir gastos adicionais – do que conservar um gasto médio de R$ 8.500,00 e ocasionalmente (a cada 2 ou 3 meses ou quando receber um bônus no trabalho, por exemplo) realizar um esforço extra de poupança para compensar os períodos que ficaram aquém dos R$ 2.000,00 mensais.
Além disso, alcançar o objetivo dos R$ 24.000,00 anuais antes do final do ano traria um enorme sentimento de prazer e conquista, liberando gastos maiores até o dia 31 de dezembro como forma de premiação pelo esforço empreendido.
Fugir da rotina de poupar consistentemente (ou, pior, não adotar uma) e não possuir nenhuma margem de segurança orçamentária (para investimentos) são ingredientes ótimos para desistir no meio do caminho. Lembre-se que o resultado dos investimentos normalmente exige uma jornada longa de poupança (aportes regulares), investimento, rentabilidade e reinvestimento.
É claro, tornar o ato de investir um hábito é um compromisso pessoal que não se confunde com a simples “terceirização” do seu patrimônio entre alguns Fundos de Investimentos ou das suas decisões para algum Consultor Financeiro. Antes de tudo, depende de um conhecimento mínimo sobre os produtos financeiros disponíveis e, mais do que isso, exige conhecer a si mesmo para entender suas preferências, o nível de risco que suporta, a lógica dos investimentos com os quais mais se identifica, entre outros fatores.
Como sabiamente esculpido na porta de entrada do Templo de Delfos (erigido em homenagem a Apolo, Deus da luz, da razão e do conhecimento) na Grécia Antiga: “conhece-te a ti mesmo”. É uma máxima que vale para a vida e para os investimentos.
Dúvidas, críticas ou sugestões, escreva para o e-mail colunainvestimentosemercados@advocef.org.br. Esse é um espaço aberto a todos e sua colaboração é fundamental! Invista no seu futuro aprendendo a investir.
Marco Aurélio Panadés Aranha
Investidor há mais de 10 anos do mercado de capitais
Formado em Administração pela FGV e Direito pela USP
@marcoaurelioparanha (Instagram)
Advogado
[1] CLASON, George Samuel. O homem mais rico da Babilônia. Copyright by Oceane Publishing [e-book].