Nesta edição, quadro apresenta sugestões de livros para aproveitar o fim de semana
O quadro Na Estante busca divulgar e valorizar os mais diferentes gêneros culturais por meio de indicações dos associados. Dessa vez, a Associação Nacional dos Advogados da Caixa Econômica Federal (Advocef) apresenta dicas dos advogados Keila Medeiros Duarte, do Jurídico de Brasília (Jurir/BR) e Roberto Maia, do Jurídico de Porto Alegre (Jurir/POA).
Para algumas pessoas, poucas coisas dão mais prazer do que escolher um bom livro, se acomodar num lugar confortável, iniciar uma boa leitura e entrar na história. A dica de Keila é uma forma de mergulhar fundo nessa sensação com o título Perdição, de Luiz Vilela, autor brasileiro contemporâneo. Contista, mestre na arte de fazer diálogos, que se equipara ao talento de Machado de Assis, mas com uma linguagem mais atual, como avalia a associada.
“Ele é um escritor que consegue expressar de forma agradável o cotidiano de uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. O livro tem a capacidade de fazer o leitor rir e chorar ao tempo em que analisa as mazelas da sociedade brasileira”, disse.
Sinopse: Romance dividido em três capítulos O rapaz dos peixes, Pastor das almas e Ninguém e narrado por Ramon, jornalista do diário de Flor do Campo, típica cidadezinha do interior mineiro, mescla histórias pitorescas sobre a origem do lugar e sobre seus personagens e mitos mais emblemáticos. Como as lendas sobre os monstros Moçalinda, Paupudo, a Cobra-Gigante, que habitaram o lago que banha a cidade e dá sustento a gerações de pescadores. Ex-professor de português, Ramon mudou de carreira após o convite de Carlos Barroso, o Almirante, que decidiu fundar o periódico por já ter feito todas as loucuras que um homem poderia fazer na vida. Menos dirigir um jornal. Cronista sarcástico e ateu, fala de tudo e de todos, enquanto divide a cena com Leo, amigo de infância que se torna pescador sem saber nadar. Depois de anos de fartura, a escassez de peixes ameaça a cidadezinha. Sem saber o que fazer da vida, Leo decide se voltar para Deus. Cooptado pela Igreja Mundial do Senhor Jesus, se muda para o Rio de Janeiro. Bonito e carismático, conhece fama e riqueza.
Autor: Luiz Vilela
Editora: Record
Número de páginas: 400
Obras do passado ao futuro
Outros dois romances são as dicas do advogado Roberto Maia. O primeiro e o título Anna Karênina, escrito por Liev Tolstói, uma obra que, na avaliação do associado, o tempo não apaga.
Escrito na segunda metade do século XIX e considerado uma das obras-primas do também autor de Guerra e Paz, o romance traça um perfil vibrante e profundo das relações pessoais e sociais da Rússia czarista. O choque entre o desejo e as convenções sociais, envolto em uma vibrante narrativa sobre as difíceis e conturbadas relações entre o poder da aristocracia e os desvãos de uma paixão proibida, dão ao romance a merecida posição de “clássico”.
De acordo com o advogado, mais do que “o maior romance sobre adultério na literatura universal”, o livro ultrapassa este conceito conferido por alguns críticos, e questiona com grande sensibilidade e aprofundamento o significado da vida e da justiça social, tendo como base as crises familiares.
Autor: Liev Tolstói
Editora: Cosac & Naify
Número de páginas: 816
Para quem quer acompanhar uma história vibrante e atual, a dica é o romance Americanah, escrito por Chimamanda Ngozi Adichie. Numa Nigéria dos anos 1990, sob o comando dos militares e encoberta por camadas intermináveis de corrupção e de abismo econômico e cultural, Ifemelu e Obinze aproximam-se e, depois de uma paixão adolescente, vivem longos anos distantes, tempo em que conhecem e fazem parte de realidades muito diferentes.
Ela, nos Estados Unidos, faz faculdade e vive tempos difíceis, como africana num país em que os negros nativos vivem ainda sob opressão, por motivos raciais. Ele, após um breve e mal concluído período na Inglaterra, acaba por conhecer um lado menos sombrio de seu país, realizando o que para muitos de seus compatriotas seriam sonhos impossíveis.
Mostrando muitos caminhos que se entrecruzam, amores matizados por paradigmas sociais pungentes, o livro cativa pela convergência de conceitos e pela divergência de posicionamentos que uma mesma pessoa pode experimentar conforme o meio em que esteja.
A autora nigeriana, reconhecida por usar sua voz para falar sobre a importância de conhecer realidades além da nossa, com curiosidade e compaixão, ajuda a enxergarmos o mundo como um lugar rico e plural.
A obra traduz, de um modo forte e por vezes impactante, os princípios que Chimamanda prega em seus discursos: é necessário perceber aquilo que temos em comum, ouvindo com generosidade, para garantir visibilidade digna ao outro.