Programas de repactuação e auxílio emergencial seguraram o endividamento, mas especialistas alertam para piora com o fim dos benefícios
O contexto de menor renda e maior endividamento criado pela pandemia de coronavírus aumentou a expectativa de altas taxas de inadimplência no Brasil, porém, dados divulgados pelo Banco Central (BC) mostram o contrário, como informa o Correio Braziliense.
Estatísticas do banco apontam que a taxa de inadimplência do sistema financeiro chegou a 3,3%, em abril, no início da quarentena, foi para 3,2%, em maio, 2,9%, em junho, e 2,7%, em julho, no menor patamar da série histórica. Ainda segundo o BC, o nível de endividamento do consumidor brasileiro variou de 26,9% a 27,3% na pandemia. Por isso, o percentual da renda que é comprometida pelo pagamento dos boletos subiu de 17,9% para 18,5%. E isso sem considerar o financiamento da casa própria, pois, neste caso, o endividamento chega a 46,7% e o comprometimento de renda, a 21%.
“Era esperado um aumento de inadimplência na pandemia, em função do contexto de menor renda e maior endividamento. Muitas pessoas perderam o emprego ou tiveram o salário reduzido pelos acordos de redução de jornada ou suspensão do contrato de trabalho. Por isso, precisaram recorrer ao crédito para manter algum nível de consumo e quitar as despesas correntes”, observou a economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Izis Ferreira.
A especialista apontou que a curva da inadimplência não seguiu o comportamento esperado em uma crise, entre outros pontos, pelas medidas tomadas pelo governo para mitigar os efeitos da crise, como o pagamento do auxílio emergencial e o saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), além da possibilidade de postergar os pagamentos que venceriam na quarentena.
Mesmo assim, os bancos temem que a inadimplência só tenha sido represada em razão dos programas e volte a crescer assim que acabarem. De acordo com a matéria do Correio Braziliense, o fim dos acordos deve ser sentido já nos próximos meses, pois a maior parte das renegociações teve, no máximo, seis meses e a possibilidade de fazer uma nova repactuação expira no fim deste mês, segundo as regras aprovadas no início da pandemia pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
“A redução da inadimplência e dos atrasos veio por causa de pausas das parcelas. O desafio é a saída pós-pausa. Os números não falam com a realidade pós-pausa, tanto que tivemos um aumento no primeiro trimestre, antes da pausa. O importante será ver o resultado do terceiro e, em especial, do quarto trimestre”, disse o presidente da CAIXA, Pedro Guimarães.
Para analistas ouvidos pelo jornal essa alta dependerá do ritmo da recuperação econômica nos próximos meses e o calote pode ser menor se o Brasil surpreender o mundo e levar um tombo menor do que 5%, como vem dizendo o ministro da Economia, Paulo Guedes.
“Muitas parcelas foram deixadas para o futuro. Se, no futuro, as condições de renda não estiverem favoráveis, isso vai se traduzir em aumento na inadimplência. Mas, se houver alguma recuperação, pode não aumentar ou não ser tão alta. Tudo vai depender da recuperação do mercado de trabalho”, confirmou a economista da CNC.