Em várias esferas, 2018 será um ano de transição, mudanças e precisamos estar preparados para essas transformações, de preferência antecipando cenários futuros, seja para manter as conquistas alcançadas, seja para avançar nas melhorias almejadas.
O ano que passou deixou ainda mais claro que estamos vivendo um processo de transformação, especialmente no mundo jurídico e na relação cliente e advogado.
O trabalho massivo e repetitivo tende a ser automatizado. A tecnologia será utilizada, cada vez mais, não apenas para substituir o trabalho humano, mas principalmente para transformá-lo. Tal fenômeno não tem nada de novo. Desde sempre a tecnologia vem transformando o trabalho do ser humano e esse é um processo inexorável que, de fato, tem aspectos negativos imediatos, tais como a rápida obsolescência da forma tradicional de trabalhar e a defasagem do próprio trabalhador que não se atualiza ou se adapta às mudanças, todavia também serve para expandir o potencial do trabalho humano.
Nesse contexto, os avanços da inteligência artificial não são intrinsecamente prejudiciais, pois podem constituir um auxílio, desde que estejamos constantemente nos reavaliando e evoluindo. Apesar da incrível capacidade, a inteligência artificial nunca atingirá o grau de sofisticação da inteligência que a criou. Pode e até deve realizar tarefas rotineiras, repetitivas, maçantes e insalubres, porém a criatividade e a versatilidade humana sempre estarão um passo à frente.
Dentre os operadores do direito e especialmente entre os advogados, seara historicamente conservadora, tais inovações parecem ainda mais assustadoras. Em comparação ao manancial de novidades tecnológicas existentes e as facilidades de comunicação trazidas por instrumentos como redes sociais e smartphones, o nosso sistema de Justiça parece ainda mais anacrônico.
Mesmo após a crescente utilização do processo eletrônico, com todos os seus percalços, toneladas de papéis ainda circulam por tribunais e comarcas do interior. Uma quantia enorme de tempo ainda é gasta para que os resultados surjam. Inúmeras vezes a cultura da burocracia ainda prevalece e verificamos a dificuldade das pessoas em assimilar as novas tecnologias. No entanto, apesar de todas as dificuldades de ordem prática e cultural, o novo sempre vem. Trazer o ambiente do Direito para o mundo conectado é uma demanda crescente e irreversível. O afogamento do nosso sistema judiciário e a frustração dos jurisdicionados constituem e demonstram a necessidade de progredir nos meios usuais e alternativos de prevenção e solução de conflitos.
Tínhamos 76,9 milhões de processos judiciais em 2015 e passamos a ter 79,7 milhões em 2016, ou seja, o estoque de processos sem decisão na Justiça brasileira continua a crescer. Tais números fazem parte do relatório “Justiça em números”, divulgado pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ, que abarca todos os tribunais, com exceção do Supremo Tribunal Federal – STF. A chamada taxa de congestionamento, isto é, o percentual de processos em tramitação sem decisão, continua alta: 73%, ou seja, apenas 27% dos processos foram solucionados. Além disso, o volume de processos continua aumentando desde 2009, segundo o relatório.
Nessa conjuntura, cresce e se impõe progressivamente o consenso de que não dá para resolver a situação sem ajuda da inovação vinda da tecnologia, mais precisamente das “legaltechs”, nome dado para as empresas emergentes recentemente criadas (também conhecidas por “startups”) que criam serviços e produtos voltados ao mercado jurídico.
Não é o caso de passar a crer em teorias radicais, que pregam a simples substituição dos advogados por um robô, mas isso não significa que o trabalho dos mesmos não esteja em plena transformação, onde computadores inteligentes auxiliam e transformam etapas do atendimento jurídico.
Justamente para evitar a mera substituição do trabalho tradicional pela máquina é que os advogados terão que adquirir novas habilidades, muitas vezes multidisciplinares, para conseguirem se manter no mercado, principalmente as que envolvem interpretação de dados.
Os negócios jurídicos estão cada vez mais complexos, exigindo dos envolvidos maiores conhecimentos. Estará melhor posicionado na negociação quem estiver melhor informado. Assim, quanto maior a busca pelo conhecimento sobre a atividade do cliente e sobre os aspectos técnicos e comerciais a serem discutidos, maiores as chances de o advogado corresponder ou mesmo superar as expectativas do seu contratante em relação à sua atuação.
Dois pensamentos parecem indicar muito bem o rumo a ser tomado diante do cenário atual. O primeiro afirma que, durante períodos de tempestade, enquanto o pessimista reclama do vento e o otimista espera que ele mude, o realista ajusta as velas. O segundo resume que não é o mais forte e nem mesmo o mais inteligente que sobrevive em meio às constantes e inevitáveis mudanças, mas aquele que possui maior capacidade de adaptação.
Álvaro Weiler Jr.
Presidente