Série sobre a participação feminina nos cargos de chefia homenageia as empregadas da estatal e traz histórias de mulheres que se dedicam ao banco público
Na última matéria da série especial sobre a participação feminina em cargos de chefia na CAIXA, a Associação Nacional dos Advogados da Caixa Econômica Federal (Advocef) conta as histórias de outras duas colegas, que assim como as demais empregadas do banco, superam os desafios para se dedicar à empresa e entregar os melhores resultados.
Ao longo do mês de março, a Advocef publicou matérias que abordaram temas como os desafios para a ascensão profissional e as motivações de mulheres gestoras para enfrentar cada etapa até alcançar os objetivos profissionais no banco.
Para fechar esse ciclo, a Associação apostou em duas histórias de gestoras determinadas e dispostas a encorajar outras mulheres.
De acordo com o estudo “o ciclo de vida do gap de gêneros”, da consultoria internacional Oliver Wyman, nas dez maiores instituições financeiras do Brasil, apenas 8% dos altos executivos e 10% dos membros dos conselhos são mulheres.
A análise do setor financeiro brasileiro aponta que elas entram no mercado de trabalho na mesma ou em até maior proporção que homens, representando 55% dos analistas júniores. No entanto, quanto mais sênior a posição, menor a representação feminina: as profissionais estão entre 37% dos coordenadores, 31% dos gerentes, 22% dos superintendentes executivos, e 16% dos diretores executivos. Ainda segundo o estudo, publicado em 2018, dois dos 10 maiores bancos não possuem nenhuma mulher entre os altos executivos.
Porém, conforme sugere uma pesquisa do Fundo Monetário Internacional (FMI) essa disparidade deve ser revista, entre outros pontos, porque bancos com maior porcentagem de mulheres na chefia ou no conselho apresentam melhores indicadores de “colchão financeiro” em relação à volatilidade dos ganhos.
O levantamento estudou 800 bancos em 72 países e mostra uma correlação: quanto mais mulheres, mais estabilidade. Segundo o estudo há duas hipóteses mais prováveis para os resultados. O primeiro é o de que conselhos com diversidade de pontos de vista têm melhor desempenho que os homogêneos.
O segundo é que, por causa do preconceito, os obstáculos para mulheres no setor financeiro são maiores, e as que conseguem superá-los são mais qualificadas e eficientes que seus pares masculinos.
Mesmo assim, na opinião da advogada Bianca Siqueira Campos de Almeida, 41 anos, ainda há uma resistência em parte da sociedade quando o assunto é a liderança feminina. A gerente do jurídico de Maceió (AL) afirma que grande parte dessa resistência vem de outras mulheres.
“Esse é um primeiro e grande entrave que qualquer mulher encontra quando assume um cargo de gestão. E esse pensamento também acaba por reduzir as oportunidades para as mulheres, posto que as empresas chefiadas por homens com esse tipo de pensamento dificilmente oferecerão oportunidades a elas”, expõe.
Apesar de a sociedade estar diante de um processo de intensas mudanças acerca dos papéis de homens e mulheres, Bianca conta que já passou por situações constrangedoras por ser uma profissional mulher.
“Particularmente nunca sofri preconceito por ser uma mulher na gestão, mas já fizeram brincadeirinhas do tipo ‘chegou a doutora para embelezar nossa reunião’… essas situações fazem da mulher um objeto porque essa característica [beleza] é a que menos deveria importar numa reunião profissional”, diz.
Na CAIXA desde os 25 anos de idade, Bianca sempre esteve atenta as oportunidades que o banco oferecia. Ela conta que a estatal sempre possibilitou e incentivou o desenvolvimento dos empregados, com isso, se dedicou para entregar os melhores resultados à empresa. E assim foi. Em novembro de 2007 passou a ocupar a função de coordenadora jurídica e em setembro de 2018 assumiu o cargo de gerente do jurídico de Alagoas.
“Os maiores dificultadores que encontrei foram: resistência de parte da equipe em ser liderada por uma mulher e o acúmulo de tarefas extra trabalho que a vida ainda impõe para as mulheres”, conta.
Para lidar com esses obstáculos ela buscou se superar e fazer diferente. Consciente dos próprios limites, ela explica que optou por defender pontos importantes para conseguir dar conta de todas as tarefas que estavam sob a responsabilidade e o controle dela.
“Eu estava em constante questionamento das minhas rotinas, sempre buscando melhoria e equilíbrio”, lembra.
A respeito dos fatores que dificultam a participação feminina nos cargos de chefia e posições de liderança na sociedade, a gestora acredita que é preciso tratar o tema de forma constante. Para ela, trata-se de um problema estrutural que necessita da atenção e cuidado de todos da sociedade, não apenas uma responsabilidade das mulheres.
“Já visualizamos uma mudança na sociedade, ainda que tímida, mas já é um princípio. Quanto às ações das mulheres penso que com o desenvolvimento da autoconsciência e o investimento em suas habilidades, elas conseguirão superar essas barreiras. Apropriando-se de suas oportunidades, encarando os riscos e lançando-se aos desafios”, explica.
Às colegas que pensam em ascender profissionalmente, mas ainda sentem medo de se desafiar, Bianca aconselha que busquem a autoconfiança, porque a equipe precisa de uma líder segura. Além disso, explica que é necessário se qualificar continuamente, encarar projetos importantes para empresa que tragam visibilidade do trabalho, e fazer uma autopromoção para divulgar as qualidades e conquistas.
“Também acho que importante se inspirar em alguma figura feminina e participar de redes sociais de mulheres com objetivo similar ajuda o desenvolvimento individual e coletivo, pois funciona como uma rede de ajuda”, encoraja.
O sonho que se tornou real
Uma série de obstáculos dificulta o avanço das mulheres em posições de liderança, entre eles, estão as normas sociais e culturais, vieses inconscientes e os processos de seleção e progressão de carreira. Mas nenhuma dessas situações conseguiu parar o sonho da advogada Patrícia Raquel Caires Jost Guadanhim, 42 anos.
A história dela com a CAIXA começou em 1997, quando fez o processo seletivo para estagiária. Ao comentar com um dos advogados do banco que sonhava em fazer parte do quadro jurídico da estatal, foi desaconselhada, pois, segundo o colega, a carreira estava em extinção com a ameaça de privatização iminente. Mesmo assim, ela não desistiu do objetivo e atualmente trabalha como coordenadora da Região Jurídica de Londrina (REJURLD).
Nascida no Sul do Brasil, o início da carreira de Patrícia Raquel foi desafiador. Assim que tomou posse ela foi lotada para atuar no outro extremo do país, em Porto Velho (RO), onde atuou durante um ano e quatro meses.
“Foi um desafio iniciar a carreira em outra região do país, com outra cultura, outro jeito de atuar na advocacia, e descobri que precisava me reinventar. Não pode querer que o lugar se adapte, você é quem precisa se adequar”, comenta.
Durante o período em Porto Velho ela dividiu a rotina de trabalho com outros dois colegas e sempre buscou o aprimoramento das habilidades por meio de cursos para aprender a lidar com as novas situações, porém, o principal aprendizado que teve foi com as pessoas que conheceu.
“Passado esse período, voltei ao Paraná, mas não para Londrina. Primeiro passei um mês em Maringá, onde conheci outra unidade e pessoas. Outra experiência rica. Eu ia e voltava todos os dias, num trajeto de 100km”, conta.
Logo depois ela foi transferida pra Londrina, onde reencontrou sua base.
“Eu fui estagiária na Rejur Londrina em 1998 com o Dr Darli Bertazzoni Barbosa. Então já conhecia os advogados daqui, hoje muitos deles aposentados. Passei cinco anos como advogada até que participei de processo seletivo e até hoje estou na coordenação”, explica.
Durante a trajetória, Patrícia Raquel afirma nunca ter percebido algum tipo de preconceito, porém, revela o sentimento de que a mulher precisa ser quase perfeita para conseguir um lugar ao sol. Na opinião dela, quem deseja crescer precisa colocar a mão na massa e conhecer, de fato, o trabalho, o que facilita para galgar os degraus da carreira.
Atualmente na coordenação de REJURLD, ela concilia a vida profissional com a tarefa e momento pessoal que a maternidade a proporcionou. Para a coordenadora é necessário muito mais disposição para transpor obstáculos, mas é possível manter os afazeres da vida cotidiana e os rendimentos no âmbito profissional.
“Não que eu me sinta exemplo pra ninguém, mas posso dizer que nas múltiplas funções que ocupo, dentre elas o conselho deliberativo da Advocef, permitem concluir que é possível alguém como eu, mulher, de origem humilde, sem qualquer indicação ou impulso exterior, atuar na função que se deseja e dar conta do recado. Basta não se vitimizar ou permitir que o julgamento alheio prejudique”, completa a advogada.
Apesar de serem registrados avanços, Patrícia Raquel acredita ser essencial o apoio mútuo entre as mulheres.
“Acho que muitas são as principais críticas das outras. Isso está mudando. Eu torço por cada uma que vejo no meu caminho. Com ou sem função. Mesmo porque função exige perfil, mas tenho vários exemplos de amigas da caixa que são excelentes técnicas e nem atuam como coordenação, gerentes. Na minha equipe mesmo, a Daniela Pazinatto e a Elaine Garcia Monteiro Pereira, ambas exemplares. E para quem diz que mulher briga informo: nunca tivemos ao longo de 14 anos brigas entre as meninas da REJURLD”, conclui.