Decisão foi motivada após presidente da CAIXA, Pedro Guimarães, ameaçar deixar a Febraban e levar o Banco do Brasil com ele
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, suspendeu a divulgação do manifesto “A praça é dos Três Poderes”, prevista para ocorrer nesta terça-feira (31). O documento é assinado por cerca de 200 entidades de classe incluindo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
O recuo foi motivado pela reação do presidente da CAIXA, Pedro Guimarães, que ameaçou romper com a Febraban caso o manifesto fosse publicado, além de levar com ele o Banco do Brasil, sob a alegação de que as entidades estariam se posicionando de forma política, o que ambos, controlados pelo governo, discordam.
Em nota, a Febraban disse que o manifesto é fruto de elaboração conjunta de representantes de vários setores, inclusive o financeiro. A Federação afirma que não participou da elaboração de texto que contivesse ataques ao governo ou oposição à atual política econômica.
“O conteúdo do manifesto pedia serenidade, harmonia e colaboração entre os Poderes da República e alertava para os efeitos do clima institucional nas expectativas dos agentes econômicos e no ritmo da atividade”, diz o comunicado.
Além disso, a entidade diz que submeteu o texto original à diretoria, que aprovou a assinatura no material. Segundo a nota, nenhum outro texto foi proposto e a aprovação foi específica para o documento submetido pela Fiesp.
Um esboço do documento obtido pela imprensa diz que os signatários “veem com grande preocupação a escalada de tensões e hostilidades entre as autoridades públicas”. Sem citar nomes, afirma ser “primordial que todos os ocupantes de cargos relevantes da República sigam o que a Constituição impõe”.
Politização de bancos
O subprocurador-geral do Tribunal de Contas da União (TCU), Lucas Furtado, acionou o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, para explicar por que Banco do Brasil e CAIXA ameaçaram sair da entidade devido ao manifesto que pede a harmonia entre os três Poderes. “Ao se confirmar a notícia, haveria risco ao sistema financeiro brasileiro advindo de possível politização dos bancos, privados e públicos”, diz Furtado no ofício obtido pelo Estadão.
Na área técnica do TCU, há a avaliação de que a decisão de CAIXA e Banco do Brasil demonstra claramente um movimento das instituições em favor de um posicionamento político do controlador (União), o que pode configurar ingerência.
De acordo com o Estadão, até o momento não houve representação formal pedindo que o TCU apure o caso, mas o entendimento entre ministros da corte é de que o episódio pode configurar alguma irregularidade devido à interferência.