Quatro gerentes de jurídicos compartilham como foi a trajetória para fazer carreira na CAIXA
Trabalhar com o que gosta e fazer carreira na empresa. Este é um objetivo comum na vida de quatro advogadas da CAIXA, que atuam na gestão do banco. Mas, tornar o sonho realidade não foi uma tarefa fácil para elas, que além dos desafios da rotina, tiveram de lidar com a nova vida distante dos familiares, a necessidade dobrada de provar a competência para o cargo e os questionamentos da sociedade.
Foi assim com a advogada Roseane Maria De Hollanda Cavalcanti, de Recife – PE. Quando decidiu participar do Processo Seletivo Interno (PSI) para ocupar a vaga de gerente do jurídico regional de Fortaleza – CE, ela não imaginava como a experiência seria desafiadora.
Casada e mãe de três filhos com idade de 19, 24 e 25 anos, Roseane conta que foi criticada por pessoas próximas pela decisão de assumir um cargo de chefia no trabalho. Para os críticos, a mudança de cidade poderia causar uma “desarmonia familiar”, portanto, o desejo de ascender profissionalmente não valia a pena.
“Quando a gente vê o homem da casa traçando sua estratégia de carreira profissional, a família toda acompanha e ninguém questiona. Mas quando uma mulher traça isso, aí a coisa muda, ela é questionada por romper a questão familiar”, analisa Roseane.
Decidida, ela mostrou ao esposo e aos filhos que a nova etapa era importante para a realização profissional, e recebeu todo apoio deles, o que foi fundamental para assumir o cargo.
“Eles optaram por me dar apoio e criar um ambiente que possibilitasse a minha vinda. Cada um assumiu a sua responsabilidade dentro do grupo familiar e a partir disso eu vi que me sobrecarregava muito”, diz a gerente do JURIR-FO.
Em Fortaleza, o desafio foi conseguir implementar uma nova cultura organizacional num ambiente diferente. Para ela, mobilizar a equipe e buscar os resultados que, na avaliação do banco, deveriam ser melhorados foi o mais instigante.
“A força de trabalho feminina empreende e traz aspectos que muitas vezes a gente não consegue visualizar numa gestão exclusivamente masculina. Não é que uma seja melhor que a outra, mas existem aspectos que se complementam se você buscar um equilíbrio entre um número x de gestores de diferentes sexos. É uma questão de complementariedade e não de competição”, salienta.
Outro ponto que chamou atenção da gerente foi o fato de a equipe ter mais técnicos homens do que mulheres. Diante disso, a impressão que tinha era que enfrentaria um ambiente machista e de rejeição, mas, não foi isso que aconteceu. Na opinião dela, a CAIXA prepara os empregados para que esse tipo de situação não ocorra.
Do ponto de vista pessoal, a advogada conta que a nova experiência exigiu uma organização maior. Como fica a semana toda longe, precisa deixar tudo pronto para conseguir passar o final de semana com a família e os amigos.
“Mesmo com essa questão do vai e vem da semana eu posso dizer que sou uma mulher realizada. Esses três anos valeram muito a pena e se eu tivesse que fazer eu faria tudo de novo”, completa.
Evolução constante
“Eu privilegiei a carreira. Casei mais tarde, com 35 anos, e a coisa mais difícil da minha vida foi ter meus filhos. Como a persistência é minha marca registrada eu não deixei por menos: tive 3. Eles foram o meu maior desafio e são o meu maior orgulho. A maior conquista foi não ter desistido deles. Tive meu primeiro filho com 42 anos e depois tive gêmeas com 45”. Esse é o relato da advogada Raquel Aparecida da Silva, 59 anos, de Florianópolis-SC.
Em busca de viver novas experiências dentro da CAIXA e se desenvolver como profissional, ela conta que atuou por muito tempo como advogada, depois foi coordenadora e mais tarde acabou sendo convidada para substituir o gerente do jurídico de Florianópolis, onde trabalha atualmente. Raquel é a única das entrevistadas que atua no estado de origem.
“Tive meus filhos e levei muito bem a minha carreira e a questão pessoal. Apesar de não conseguir estar tão presente na vida deles como gostaria compenso isso com qualidade de tempo que estamos juntos”, conta.
Mais uma vez, a rede de apoio formada pela família e pessoas próximas se mostra essencial para viabilizar a carreira da mulher, como no caso da gerente Raquel. O marido dela, que também trabalha na CAIXA, foi uma das pessoas que mais apoiou a trajetória da gestora.
“Meu marido sempre ajudou muito, ele é um superpai. Ele era gerente de agência e abriu mão da função, o que reduziu sua carga horária, para se dedicar mais a família. Todos sabemos que conciliar a vida profissional e pessoal não é uma tarefa fácil. Nós mulheres que trabalhamos muito, nos penitenciamos e nos cobramos bastante. O profissional e o pessoal se complementam. Eu não seria tão feliz como sou, se não tivesse essa dupla atuação”, conclui a gerente do JURIR-FL.
A CAIXA foi a primeira instituição financeira do Brasil a ter uma mulher na presidência. Empregada da estatal, Maria Fernanda Coelho presidiu o banco público entre 2006 e 2011. Mais tarde, a empresa implementou o programa Caixa Diversidade, com políticas pró-equidade de gênero e raça.
Em uma breve reflexão sobre o contexto atual, Raquel considera que a sociedade vive um momento de importantes mudanças, mas ainda há muito para ser melhorado, como a intensificação da participação feminina na política, por exemplo.
Ao trazer essa observação para a realidade da Advocef, Raquel ressalta a atuação da presidente da Associação, Anna Claudia de Vasconcellos, que é a primeira mulher a ocupar o cargo na entidade.
“Esse é um exemplo típico dos espaços que estamos ocupando, de como mulheres estão abrindo caminhos para participação em novos segmentos. Considero que tivemos avanços significativos e a Anna tem feito um amplo e belíssimo trabalho atendendo o Brasil inteiro. O legado dela é muito importante”, completa.
Representatividade
De acordo com o relatório de sustentabilidade da CAIXA, publicado em 2018, as mulheres representavam, na época, mais de 44% dos empregados em todas as categorias funcionais. Ainda de acordo com o documento, a partir da categoria de chefia de unidade até dirigentes a representatividade das mulheres diminui.
Foi em busca de se tornar uma referência positiva para as filhas de nove e 12 anos, que a advogada Maria Rosa de Carvalho Leite Neta, 39 anos, de Fortaleza – CE, decidiu assumir a gestão do jurídico de Teresina – PI. Há um ano e meio como gerente, a dificuldade maior é ter que lidar com a distância e ver a família apenas uma vez por semana.
“Eu tenho duas filhas e quero que elas sejam mulheres independentes, que tenham uma personalidade íntegra. E um dos pontos para que eu assumisse a gerência, foi exatamente isso”, explica.
Motivada por uma vivência em Maceió-AL, em 2017, ela achou que a oportunidade de trabalhar no jurídico do Ceará seria enriquecedora, uma vez que cada região tem particularidades capazes de moldar o a forma de atuação do advogado.
Mas o objetivo de se realizar profissionalmente representou um desafio ainda maior: o de conciliar a vida de gestora, mãe e esposa.
“Pessoalmente é muito difícil, as minhas filhas reclamam da minha ausência, mas meu esposo me ajuda bastante, me incentivou e apoiou muito. Meu objetivo é me realizar profissionalmente, mas eu também tento ser presente como mãe”, conta a gerente do jurídico de Teresina.
Na avaliação de Maria Rosa esse é um dos fatores que contribuem para que muitas mulheres não assumam cargos de chefia, porque, segundo ela, a decisão não é neutra, e elas precisam pensar de forma ampla antes tomar uma atitude.
“As pessoas me julgam, acham estranho, me questionam por que para a nossa sociedade é razoável que o homem tenha esse tipo de atuação. Quando é uma mulher, nós ainda somos olhadas de forma diferente. A questão é enfrentar essas situações. Se a minha família está me apoiando eu entendo que o pensamento dos outros é o de menos”, destaca.
Além da pressão na vida pessoal, a gerente também vivenciou situações de preconceito, que partiram, muitas vezes, de outras mulheres.
“Ao mesmo tempo que encontro mulheres que me julgam, no sentido de achar estranho o fato de eu ter assumido uma função e estar longe da minha casa, também encontro outras que estão se arriscando mais a buscar a realização profissional e de vida, saindo da zona de conforto”, observa.
Nesse caso, Maria Rosa afirma que sempre enfrentou tudo com muita leveza. Para ela, a CAIXA preza a valorização da diferença e tem incentivado a participação feminina nos cargos de chefia.
“Me sinto realizada na minha função, eu descobri outras atividades que me motivaram a tomar outros rumos. A gestão te empolga bastante, faz com que você tenha iniciativas que antes não tinha. É uma postura de resultados e bem desafiadora”, conta.
Sempre além
Solteira, sem filhos e com um extenso histórico de participação na CAIXA, a advogada Virgínia Neusa Lima Cardoso, 37 anos, de São Luís – MA, coleciona os amigos que fez nas diferentes cidades em que atuou pelo banco.
A trajetória foi iniciada em Imperatriz – MA quando ela assumiu a missão de trabalhar numa espécie de extensão do jurídico de São Luís, onde ficou por cerca de quatro meses para conhecer os procedimentos dessa área da CAIXA. Na época, ela tinha apenas três anos de formada, dava aulas e era concursada da Assembleia Legislativa do estado.
“Era um trabalho totalmente diferente do que eu fazia, que era advocacia de procuradoria legislativa. Trabalhar para um banco era outra sistemática e esse tempo foi muito importante para mim”, lembra.
Parte do quadro de empregados da CAIXA, ela participou de um PSI para atuar na coordenação do jurídico de Teresina – PI. Aprovada, se mudou para a cidade e atuou pela primeira vez num cargo de gestão.
Virgínia conta que não tinha ideia do que a esperava, pois nunca tinha exercido a função, ainda que de forma eventual. Era uma advogada que mexia com processos relevantes e queria fazer carreira na instituição financeira. “Fiquei cinco anos lá, durante esse período trabalhei e estudei muito. Me tornei instrutora da Universidade CAIXA vinculada a Escola de Advocacia da CAIXA e amo ensinar”, conta.
Sempre em busca de mais, ela decidiu pleitear uma vaga de gerente do jurídico de Aracaju – SE. Mais uma vez aprovada, novamente partiu: outra cidade, longe da família e cheia de novos desafios.
“Lá eu conquistei meu espaço, descobri que gestão de pessoas é algo que eu gosto muito e fiz do jurídico uma nova família. Minha equipe e eu fizemos um trabalho muito bom”, conta.
Toda essa dedicação à carreira profissional fez Virgínia ser questionada em outras áreas da vida. As pessoas queriam saber quando ela se tornaria mãe, se não pretendia se casar, ou como conciliava a vida pessoal com tanto trabalho. Para conseguir lidar com tanta pressão, ela se apoia num tripé que inclui a família, a terapia e o Centro Espírita onde pratica a religião.
“O foco na carreira existe, mas eu também vivo muito a minha vida pessoal. Eu posso exercer minha maternidade de outras formas: posso adotar, exercer o instinto maternal com as minhas sobrinhas… sofro a mesma pressão que todas as mulheres sofrem de estar o tempo todo bem, só que eu faço terapia. Se você não fizer terapia não aguenta porque a sociedade é cruel”, diz.
Ao analisar toda a trajetória, a advogada recorda que sempre buscou se impor sem deixar de ter empatia com os colegas, o que se tornou um diferencial na atuação dela. Mesmo assim, as situações adversas não deixaram de existir.
“Sempre tem um homem me explicando uma coisa que eu já sei. O que me irrita também são as piadinhas machistas. Uma vez tive que falar sobre isso com um colega, que depois veio me pedir desculpas”, comenta.
Educada desde criança para ser independente emocional, financeira e profissionalmente, além de agarrar as oportunidades que a vida oferece, a advogada decidiu se desafiar um pouco mais.
Dessa vez, se inscreveu para o banco dos sucessores dos gerentes nacionais. Agora, ela atua como gerente nacional da Gerência Nacional Gestão da Regionais Jurídicas e mora em Brasília – DF.
“Hoje atuo na GERID. As decisões que você toma ali vão impactar não só na rotina de um jurídico, mas de todo Brasil. Estou aqui há dois meses e me sinto em casa. É um desafio como se tivesse mudado de emprego. É muito bacana, dá um frio na barriga”, comenta.
Para as que pensam em ir além na carreira, Virgínia deixa um recado importante. “Não desistam e fiquem sempre perto de pessoas que acolham vocês porque vão ter momentos difíceis e temos de estar perto de quem gosta da gente. Ter uma rede de apoio é muito importante também”, encoraja.