Caro leitor, você merece bem mais do que apenas organizar as suas finanças pessoais e investir para no futuro conquistar uma renda passiva que garanta o seu estilo de vida.
Por isso gostaria de compartilhar uma visão de finanças pessoais integrada, que não se sustenta sozinha senão quando acoplada a um plano de vida amplo e global e, para isso, peço humildemente que me acompanhe, lado a lado, na leitura de hoje com especial atenção.
Você já pensou que se alimenta não apenas de comida, mas também de tudo aquilo que é captado pelos seus sentidos (tato, paladar, olfato, visão e audição)?
Em sentido amplo, o que consumimos diariamente (alimentos, material publicitário, livros, programas de televisão, canais do YouTube, redes sociais, notícias de jornal, relacionamentos humanos, estresse cotidiano etc.) afeta não apenas o nosso humor e as nossas emoções, mas também influi em nossos pensamentos e molda-nos de certa forma.
É partindo dessa percepção de que tudo aquilo com o que temos contato alimenta o nosso corpo, a nossa mente e o nosso ser que podemos tomar decisões mais conscientes sobre o que desejamos ou não para a nossa vida.
Parto dessa compreensão maior para justificar – e tentar explicar – porque as finanças pessoais caminham pari passu com outras dimensões humanas essenciais como a saúde, a gestão do tempo, o conhecimento e as emoções, como veremos adiante.
E digo isso porque você, caro leitor, merece bem mais do que apenas alcançar a independência financeira!
Pense na organização da sua vida e, particularmente, como está estruturado o seu dia a dia.
Você provavelmente concluirá que a sua rotina é composta de dois tipos de eventos: os que podem ser controlados por você e os que não podem.
No plano natural/biológico, não se pode controlar os horários do raiar e do pôr-do-sol, o clima, o surgimento da fome e do cansaço, a necessidade de dormir, o passar do tempo (idade) etc. No plano social, não podemos controlar o comportamento alheio (pessoal/profissional), evitar completamente os acidentes de trânsito, impedir o avanço tecnológico, a violência urbana, entre outras circunstâncias.
Por outro lado, é possível controlar o nosso comportamento em relação ao clima (se sairemos ou não de casa, qual roupa colocaremos, se levaremos ou não guarda-chuva…), à comida que consumimos, ao horário que nos deitamos para dormir, àquilo que fazemos no tempo livre, à nossa reação face ao comportamento alheio, a contratar ou não um seguro para o carro etc.
Diante de tantas decisões a serem tomadas diariamente, o ser humano desenvolveu uma estratégia fantástica para economizar energia e gerar eficiência e produtividade: o hábito.
O hábito é um comportamento que começa por uma escolha consciente e torna-se um padrão quase inconsciente (ou seja, automático) com o tempo. É a forma mais fácil, rápida e econômica de o nosso cérebro viabilizar o nosso dia adia.
Já imaginou o trabalho que seria se nós tivéssemos que elaborar cognitivamente nossas respostas (reativas ou proativas) às situações mundanas todas as vezes que fôssemos realizar as mesmas tarefas diárias de acordar, trocar de roupa, escovar os dentes, comer, dormir, comprar itens cotidianos, dirigir o automóvel, olhar o celular… seria terrível, um martírio!!!
Ao mesmo tempo em que o hábito é maravilhoso porque economiza tempo e energia, ele tem o potencial de aprisionar-nos em uma rotina prejudicial aos nossos objetivos se os hábitos que adotamos forem ruins.
Fazer ou não atividade física todos os dias, é um hábito. Beber pouca ou muita água todos os dias, é um hábito. Meditar ou não todos os dias, é um hábito. Escolher alimentos mais ou menos saudáveis durante as refeições, é um hábito. Trabalhar focado ou olhando o celular a cada dez minutos, é um hábito. Gastar menos do que se ganha mensalmente ou não, é um hábito. Investir todos os meses ou não, é um hábito. Esses são apenas poucos exemplos entre vários outros possíveis.
Segundo estudo da Universidade Duke (EUA), 45% do nosso dia a dia é composto por hábitos[1].
O percentual exato (se 35%, 45% ou 55%) é irrelevante. O que realmente importa é a compreensão de que BOA PARTE DO NOSSO SUCESSO E DA NOSSA REALIZAÇÃO PESSOAL DEPENDE DA INSERÇÃO DE BONS HÁBITOS – DE SAÚDE, DE FINANÇAS, DE RELACIONAMENTOS, DE GESTÃO DO TEMPO E DE AQUISIÇÃO DE CONHECIMENTO – NA NOSSA ROTINA.
Quando escrevi o artigo “Tome banho, escove os dentes e invista” – o 6º desta Coluna – tentei fazer uma alusão implícita à importância do hábito de investir parte dos ganhos mensais em ativos que viabilizem a construção de um patrimônio sustentável de longo prazo que se destine a alcançar a independência financeira.
Felizmente os hábitos não se encaixam na categoria de eventos que não controlamos. Mas eles podem tonar-se incontroláveis se não refletirmos sobre como eles influenciam o nosso dia a dia e, principalmente, se não fizermos um esforço de seleção consciente dos hábitos que desejamos ou não adotar.
Além dos hábitos, há uma outra gama de comportamentos únicos e esporádicos que dependem de decisões cognitivas analíticas, ou seja, muito bem pensadas.
São analíticas as decisões de comprar um imóvel/automóvel ou morar de aluguel e contratar carros por aplicativos para locomoções urbanas, adiantar ou não o consumo de determinados bens por meio de empréstimos, viajar ou não nas férias e a escolha do(s) destino(s), fazer ou não cursos de atualização curricular e profissional, mudar de profissão etc.
Nessa dinâmica semanal, entre dias úteis e fins de semana, quando tomamos decisões cognitivas analíticas e aquelas movidas pelo hábito, onde se localiza a dimensão dos investimentos? Por que é relevante integrar a nossa gestão de recursos materiais às demais dimensões de saúde, tempo, conhecimento e emocional? Para quê assumir esse olhar global (com soluções evidentemente mais complexas) ao invés de simplesmente “ajeitar” o orçamento doméstico e escolher os melhores Fundos ou ativos para aplicar o próprio dinheiro?
É isso que responderemos no próximo artigo…
Dúvidas ou sugestões, escreva para o e-mail colunainvestimentosemercados@advocef.org.br. Esse é um espaço aberto a todos e sua colaboração é fundamental! Invista no seu futuro aprendendo a investir.
Marco Aurélio Panadés Aranha
Investidor há mais de 10 anos do mercado de capitais
Formado em Administração pela FGV e Direito pela USP
@marcoaurelioparanha (Instagram)
Advogado
[1] “Quinn, J.M., & Wood, W. (2005). Habits across the lifespan. Unpublished manuscript, Duke University” e “Wood, W., Quinn, J.M., & Kashy, D. (2002). Habits in everyday life: Thought, emotion, and action. Journal of Personality and Social Psychology, 83, 1281–1297”.